quarta-feira, 18 de abril de 2012

Evolução Histórica das Relações Públicas no Brasil

     O início do século 20 foi um período fundamental para o desenvolvimento industrial no Brasil. Nosso país passou a ter a força de grandes usinas hidrelétricas, como a inaugurada no ano de 1901, em São Paulo. A partir daí, com o começo da urbanização das principais cidades brasileiras da época, diversas profissões, seja da área técnica ou humana, tiveram seu impulso inicial.  
    Com as Relações Públicas não poderia ser diferente. Tanto que, em 1914, foi criado o primeiro departamento dessa área, pela empresa canadense The São Paulo Light and Power Co. Limited. Com o objetivo de dar informações ao público, possuía as atribuições de cuidar dos negócios da Light com autoridades municipais e estaduais, administração dos passes escolar concedidos pela companhia aos estudantes, entre outros assuntos (Gurgel, 1985).  
     Peruzzo (1986) ratifica esse panorama, mostrando que a arrancada da industrialização provocou o surgimento da necessidade de instituições na utilização de técnicas de relações públicas, já que a grande indústria trouxe em decorrência os problemas de administração de pessoal. Com isto, podemos afirmar que as indústrias de base inauguraram as relações públicas no Brasil.  
     Por se situarem como sustentáculos do desenvolvimento industrial, essas instituições enfrentavam graves dificuldades que recomendavam inovadoras técnicas de relacionamento com os públicos existentes. Como essas indústrias eram empresas de economia mista, sendo resultado da união de verbas públicas e privadas, tiveram duplicados seus problemas pelo crescimento do número de públicos a atender, pois a existência de dinheiro do governo remete uma preocupação com todas as camadas populares.  
     É nas décadas de 30 e 40, com o governo de Getúlio Vargas, que a indústria de base tem seu grande salto de expansão. Em razão das inúmeras greves e outras atividades revolucionárias realizadas pelos movimentos operários mesmo antes de 1930, o presidente sistematizou e aplicou uma extensa legislação social, estabelecendo um clima de cordialidade e confiança entre patrão e empregado.  
     A atuação do Governo no âmbito do controle de informações transmitidas também era ampla. O estadista tratou de manipular a opinião pública, através da censura aos veículos de comunicação, formando sua própria versão política e social do país. Nesse período que a comunicação começa a ter posição de destaque em órgãos oficiais brasileiros. São criados, em 1931, o Departamento Oficial de Publicidade, em 1934, o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural no Ministério da Justiça e, em 1939, o Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP - subordinado diretamente ao presidente. O DIP, pelo Decreto-Lei nº 1.915, de 27 de dezembro de 1939, englobava os serviços de propaganda, publicidade, rádio-difusão, imprensa, diversões públicas e turismo.  
     Nos primórdios da área teórica/acadêmica da profissão, é criado o primeiro curso universitário da atividade na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, no início da década de 40. Entretanto, estudos mais aprofundados da área só acontecem no final dessa década, na Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, e no Instituto de Administração da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP, através de seminários. Além dessas, outras entidades estavam interessadas nessa área, mas de uma forma mais difusa, pois o trabalho desenvolvido pelo DIP e agências privadas de propaganda causava muita confusão com a publicidade e a propaganda.  
     É então durante os anos 50 que a área adquire maior forma como atividade profissional. As grandes empresas passaram a exigir competência e técnica nos seus setores de comunicação, deixando de lado profissionais improvisados e inexperientes. Em 1953, a ONU e a Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas realizam o primeiro curso de Relações Públicas, sob a regência de Eric Carlson, chamando a atenção para a importância dos serviços de informação na administração pública federal.  
     O grupo formado pelo curso, integrado por profissionais como Florindo Villa-Alvarez, Roberto Preis Fernandes, Simas Pereira e Benedito Silva, fundou, no dia 26 de julho de 1954, em São Paulo, a Associação Brasileira de Relações Públicas - ABRP -, sob a presidência de Hugo Barbieri, contando também com nomes como Ubirajara Martins, May Nunes de Souza, J. B. Ramos, Wladimir Borba, Aníbal Bonfim, entre outros. A entidade filiou-se, nos anos seguintes, à IRPRA - International Public Relations Association, reconhecida pela ONU, e à FIARP - Federação Interamericana de Associações de Relações Públicas.  
     Por mais divergentes que possam ser as opiniões sobre a história das Relações Públicas no país e no mundo, diversos autores entram em consenso quanto a uma questão: os anos 60 foram decisivos e transformadores dessa área no Brasil. Isto se justifica por dois fatos a serem analisados nesse estudo, a regulamentação da profissão e a atuação do Governo Militar pós-golpe de 64. Toda essa efervescência sócio-econômica abriu à área da comunicação um grande mercado e diversas oportunidades. No ano de 1962, em São Paulo, é publicado o primeiro livro de Relações Públicas de Brasil: “Para Entender Relações Públicas”, de Cândido Teobaldo de Souza Andrade. No ano seguinte, foi realizada, no Rio de Janeiro, a IV Conferência Interamericana de Relações Públicas (Gurgel e Serra, 1983).  
     Destaca-se no ano de 1968, a realização de uma edição do Congresso Mundial de Relações Públicas, no Rio de Janeiro. Esse evento, considerado como ponto marcante para o esclarecimento e a evolução da atividade no país, contou com a presença de grandes profissionais do mundo inteiro.A partir da Revolução de 1964, com a queda do presidente João Goulart, o país passou a ser governado por uma junta militar, regida principalmente pelo Exército, a qual inovou os métodos de comunicação governamental, colocando as Relações Públicas em papel de destaque no Brasil.  
     ENSINO - Mesmo antes da regulamentação das Relações Públicas, muitas universidades já demonstravam interesse no estudo acadêmico desta área. Fora os já citados cursos na Praia Vermelha (década de 40) e da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (1953), pode ser relacionada a criação da Escola de Comunicações e Arte, na Universidade de São Paulo - USP- com o curso regular da área (1965).  
     No entanto, foi a partir a regulamentação profissional que as Relações Públicas expandiram-se vertiginosamente no plano acadêmico. O ensino de comunicação não significava mais somente o ensino de jornalismo, aparecia agora ligado a áreas como relações públicas e publicidade e propaganda, com forte presença nos negócios da política e da economia.  
     Uma significativa parte dos currículos do ano de 1969 explicitavam à formação dirigida ao mercado, através de técnicas e práticas específicas da comunicação, indo de encontro aos padrões de currículos de 1962 e 1966, com uma abordagem mais humanística e social. O campo da comunicação, dessa forma, equivaleu-se a outras áreas do conhecimento tecnicista, baseando-se na utilização de novas tecnologias.  
     O enfraquecimento dos cursos de Relações Públicas nas faculdades brasileiras, bem como o fechamento de muitos destes, é uma preocupação freqüente da classe profissional. O crescimento em grande escala do número de cursos, principalmente durante a década de 70, gerou uma baixa de qualidade no ensino, a qual poderá se tornar o principal problema para a profissão no futuro.  
     Este texto foi baseado na monografia de Frederico Ferreira La Rosa, apresentada para a FABICO/UFRGS - Porto Alegre, no segundo semestre de 2001, com o título "A Influência do Governo Militar no Desenvolvimento das Relações Públicas" - tendo obtido Conceito A sob orientação da professora Maria Helena Weber.. 



Ednara Pereira

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